Sem tempo para ler? Experimente escutar!
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Por quê estamos lendo menos? A ciência explica

Você sente que lê cada vez menos com o passar do tempo? Talvez isso seja mais do que uma impressão. Muitos relatórios e estudos indicam que o hábito da leitura está a tornar-se menos comum em vários países a fora.

Uma pesquisa de 2019 da Kantar Media, com sede no Reino Unido, revelou que apenas 51% dos adultos leram pelo menos um livro no ano anterior. Ou seja, 49% dessas pessoas não leram um único livro nesse período.

Nos continente americano, a situação é relativamente melhor: 27% dos adultos não leram um livro em 2019. Um estudo aqui chamado Retratos da Leitura no Brasil mostrou que entre 2015 e 2019, a proporção de pessoas que disseram ter lido diminuiu 56 %. São 52%. Mas qual a razão do desinteresse por esta prática saudável?

É claro que a razão mais óbvia para o declínio do interesse pelos livros está relacionada com a nossa obsessão pelos telemóveis e pelas redes sociais, que nos distraem cada vez mais. Afinal, ainda há muito “trabalho” e “trabalho”. Leia um livro em vez de assistir a vídeos do TikTok.

Mas existem outras hipóteses possíveis. Um deles é a recessão. Na maioria dos países, incluindo o Brasil, a classe média está diminuindo. Portanto, pode haver uma correlação: quanto menos dinheiro as pessoas têm, menos lêem. Isso acontece por causa do preço dos livros e do tempo livre que eles têm (eles têm que “fazer face às despesas” e continuar correndo para ganhar a vida).

E a Neurociêcia?

A neurocientista americana Marianne Wolf, autora de The Brain in a Digital World (O Cérebro no Mundo Digital), oferece algumas respostas possíveis. O cientista disse que passar muito tempo em frente aos ecrãs e aos nossos hábitos digitais associados pode mudar a forma como processamos a informação.

O que aconteceu é o seguinte: as telas digitais nos acostumaram à prática de “swisping” (passar os olhos) e “screen swiping”. Essa habilidade se estende ostensivamente a uma variedade de textos e é uma habilidade associada à leitura e compreensão de argumentos complexos, à realização de análises críticas e à empatia com aqueles que defendem diferentes pontos de vista.

A explicação faz sentido: Wolf salienta que, ao contrário da visão e da linguagem falada, a capacidade de ler e interpretar textos e gráficos não é inata. O cérebro humano começou a “ligar e conectar” e os circuitos de leitura apareceram no cérebro há cerca de 6.000 anos.

Este processo vem evoluindo desde então, mas deve ocorrer ao longo da vida porque não é inato ao ser humano. Wolf disse à BBC Brasil: “Desde o nascimento de uma criança, formam-se circuitos genéticos para a leitura. A capacidade de ler deve ser estabelecida no cérebro, e esses circuitos refletem a linguagem que a pessoa utiliza e seu sistema de leitura”. Canal de notícias: “Escrevendo e como ler.” ”

Portanto, a evolução dos nossos hábitos de leitura, aliada ao uso excessivo das redes digitais, muitas vezes faz com que o nosso cérebro prefira a leitura profunda. Então há uma contração. Capacidade de ler textos mais longos.

Quais as dicas e recomendações?

A neurocientista ainda alerta que devemos nos preocupar principalmente com os efeitos dessas mudanças nas novas gerações. “Os jovens estão desenvolvendo uma impaciência cognitiva que não favorece a leitura crítica. Deixamos de estar profundamente engajados no que estamos lendo, o que torna mais improvável que sejamos transportados para um entendimento real dos sentimentos e pensamentos de outra pessoa”, pontua.

Por isso, quanto mais nos acostumamos com leituras rápidas (como as feitas em ambientes online), é provável que nos tornemos menos empáticos ou dispostos a entender fenômenos sociais mais complexos, como a economia e a política, que não podem ser resumidos em explicações simples.

No entanto, os investigadores sublinham que não há como inverter esta tendência: as pessoas passarão menos tempo a olhar para números, pelo menos num futuro próximo. A chave é usar esses resultados para agir.

“Quero enfatizar que não creio que seja uma questão binária, tela versus papel. Só precisamos saber o propósito do que estamos lendo e qual é a melhor abordagem. “Não se trata de escolher um caminho em detrimento de outro. Marianne Wolf acrescentou: “Outra maneira, mas entendendo o que está acontecendo em nossos cérebros e entendendo o propósito do que lemos”.