O Impacto da Digitalização da Sociedade

 

No Brasil do início dos anos 2000 (época em que tive minhas primeiras experiências com vendas online), fazer compras no ambiente digital exigia do usuário, além do acesso a um computador conectado, uma boa dose de ousadia e pioneirismo. O consumidor on-line ainda era uma minoria e as lojas de e-commerce estavam se consolidando.

Desde então, alguns fatores provocaram grandes mudanças na forma como o brasileiro consome nos meios digitais, especialmente a difusão do acesso à internet, a abrangência do uso das mídias sociais e dos aparelhos móveis conectados (tablets e smartphones), a expansão da nova classe C e a popularidade do uso dos cartões de crédito. De acordo com um estudo da Visa, atualmente, 27% do valor total de bens e serviços comercializados no país são pagos com cartões, número que, em 2004, era de apenas 16,5%. O estudo mostra uma expansão de 64% no uso do serviço em oito anos.

 

Na última década, o faturamento total do e-commerce no país passou de R$ 540 milhões para R$ 22,5 bilhões, e o número de e-consumidores de 1,1 milhão para 43 milhões, de acordo com o e-bit 2012, da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. O número de usuários de internet, agora segundo a Meio Mensagem (dados de 2013) já alcançou a cifra de 103 milhões (+ de 50% de penetração na população), colocando o Brasil cada vez mais no topo do ranking mundial.

Em 2011, o Brasil foi um dos países que mais cresceram em IDI (ICT Development Índex, índice pulicado pela United Nations International Telecommunication Union, com base em indicadores de tecnologia da informação e comunicação), passando de 0,54% para 4,72%. Hoje, comprar em meios digitais, não mais apenas produtos tecnológicos, mas quase qualquer tipo de produto já está fazendo parte da rotina da grande maioria da população.

 

Quando as lojas de departamentos físicas lançaram suas primeiras versões on-line, era consenso estarem tratando com dois públicos bem diferentes: os clientes com acesso à internet, supostamente das classes A e B – público-alvo das lojas on-line -, e os demais das classes C e D que, teoricamente, continuariam comprando apenas nas lojas físicas.

Produtos de tíquete médio baixo, como livros, CDs e DVDs, eram responsáveis pela maioria das transações, bem diferente dos R$ 346 gastos em média no ano passado, quando eletrodomésticos e vestuário ocuparam os primeiros lugares das vendas on-line. As mudanças no perfil das compras e dos compradores ao longo dos anos indicam uma maior aproximação do perfil do consumidor on-line e off-line, e as lojas precisam estar preparadas para esse novo cenário.

 

Usuários de várias classes sociais trafegam confortavelmente entre os ambientes virtuais (online) e reais (off-line), enquanto conceitos sedimentados do planejamento de mídia ganham novas variáveis e possibilidades.

 

A transposição ao novo ecossistema não é óbvia nem automática e exige um conhecimento ainda mais profundo não só dos hábitos de consumo do brasileiro atual, mas também, e indispensavelmente, de tecnologia – produtos tecnológicos indo dos produtos eletrônicos aos softwares avançados. A complexidade do ambiente digital aumentou muito. Para encontrar o mix de comunicação de cada empresa de e-commerce, é necessário considerar todos os aparelhos conectados: computadores, celulares, tablets, games, televisões conectadas e DOOH (Digital Out of Home, a chamada mídia digital fora de casa, como as TVs instaladas nos elevadores de prédios comerciais). Em cada um deles, há várias formas de comprar a mídia e métricas próprias a serem avaliadas, além da necessidade de orquestrar todas elas com as campanhas na mídia off-line.

 

Um estudo produzido pela Ipsos OTX Media CT e o Google indica que as compras por aparelhos móveis ainda são incipientes no Brasil. De acordo com a pesquisa Nosso planeta Mobile: Brasil, o celular responde por apenas 1,3% do total comercializado pelo e-commerce nacional, mas nos Estados Unidos esse número já representa 5% das vendas do varejo.

 

Muito bem, neste cenário posto nada melhor do que refletir mais, perceber que o mercado brasileiro tem características próprias – diferente dos demais países – e o empresário deve ter cautela em adotar, sem restrição, inovações e práticas importadas. As empresas que entenderem antes e melhor as necessidades e os desejos de nosso mercado e souberem transformar esse conhecimento em ações sairão na frente neste mercado altamente promissor e ainda em fase de consolidação.